terça-feira, 2 de dezembro de 2008

COM USURA NENHUM HOMEM TERÁ CASA DE BOA PEDRA (Um singelo ensaio sobre Ezra Pound)


MILTON FERREIRA VERDERI

Falar sobre Ezra Pound é um tanto difícil. Sabendo de toda polêmica e paradoxo sobre seu anti-semitismo, sobre ele ter apoiado Mussolini, ter tido como defensor e discípulo Louis Zukofsky um dos maiores poetas americanos modernos e judeu. Ezra Pound tenta em seus poemas passar um idealismo de governo baseado em Confúcio, através de passagens líricas, descrições históricas e suas técnicas “ideográficas”.

Dentro de sua maior obra ‘Os Cantos’ – em português temos uma belíssima tradução de José Lino Grunewald pela Editora Nova Fronteira - percebemos uma falta de roteiro e final definitivo. A primeira leitura de ‘Os Cantos’ parece caótica e sem estrutura. R. P. Blackmur em 1934 escreveu: “O trabalho de Ezra Pound é, para a maioria das pessoas, tão difícil de entender como a Rússia Soviética... "Os Cantos” não são complexos, são complicados”. O problema do trabalho de Pound é a incoerência, existem notas equivocadas, mostrando que Pound não conseguia trazer a coerência em seu material, apesar de ele próprio admitir que as palavras, por si só, já são coerentes.

Ele fazia até de suas cartas para o pai, certa estrutura já profetizando o que viria em ‘Os Cantos’. Em uma de suas cartas enviadas ao pai em 1920 ele diz assim:

A.A Homem vivo desce ao mundo dos homens

C.B A repetição na história

B.C O ‘momento mágico’ ou o momento de metamorfose, se prende através do quotidiano dentro do ‘mundo divino ou permanente’. Deuses, etc.

As letras ABC/ACB indicam as seqüências nas quais os conceitos podem ser apresentados. Na luz de ‘Os Cantos' – escritos mais tarde – seria possível adicionar outros motivos recorrentes nesta lista, tais como: periploi (‘viagens ao redor’); rituais de vegetação tais como os Mistérios Eleusianos; usura, bancos e créditos; e ser levado na claridade da arte, tais como a ‘linha clara’ da pintura Renascentista e a ‘canção clara’ dos trovadores.

A estrutura simbólica do poema também faz o uso da luz e da escuridão. Imagens de luz são usadas em grande variedade, e pode representar as idéias de divindades neoplatônicas, o impulso artístico, o amor (carnal ou sagrado), o bom governo, dentre outras coisas.

A Lua é frequentemente associada com a criatividade, enquanto o Sol é relacionado com a esfera política e atividades sociais. Várias vezes tais estrelas trocam de posição, pegando uma a atividade da outra, atividade poética. O esforço do poema é combinar ou unir esse dois aspectos de luz num todo único.

‘Os Cantos” foi inicialmente publicado na forma de seções separadas, cada uma contendo vários cantos que eram numerados sequencialmente usando numerais romanos (com exceção dos cantos 85-109, primeiro publicados com numerais arábicos).

As datas originais de publicação dos grupos de cantos são dadas abaixo. A coleção completa dos cantos foi publicada em 1987(incluindo uma coda final ou fragmento, datado de 24 de Agosto de 1966). Em 2002 uma edição bilíngüe de Cantos Póstumos (Canti postumi) apareceu na Itália. Esta é uma concisa seleção de um conjunto de rascunhos, entre 1915-1965, não agrupados ou não publicados por Pound e contém muitas passagens de mérito intrínseco que também joga uma luz em “Os Cantos” como nós o conhecemos.

“Os Cantos” como foi publicado pela primeira vez:

1. I – XVI (publicados entre 1924 e 1925 pela Three Mountain Press em Paris)

2. XVII – XXX (publicados entre 1924 e 1925 como um rascunho pela Three Mountain Press em Paris)

3. XXI – XLI (publicados como Onze Cantos Novos pela Farrar & Rinehart Inc. New York, 1934).

4. XLII – LI (publicados como A Quinta Década dos Cantos pela Faber & Faber, Londres, 1937).

5. LII – LXI –Os Cantos da China (publicados como Cantos LII – LXI pela New Directions, Norfolk, Connecticut, 1940).

6. LXII – LXXI – Os Cantos de Adams (publicados como Cantos LXII – LXXI pela New Directions, Norfolk, Connecticut, 1940).

7. LXXII – LXXIII – Os Cantos Italianos (escritos entre 1944 e 1945 – foram incluídos postumamente em 1987 – Pound reverte ao modelo de “A Divina Comédia de Dante" e coloca a ele mesmo conversando com fantasmas de uma Itália remota e de um passado recente)

8. LXXVI – LXXXIV – Os Cantos Pisanos (publicados como Os Cantos Pisanos pela New Direction, Nova Iorque, 1948).

9. LXXV – XCV – Rock – Drill (Rocha – Furadeira) (publicados como Rock – Drill, 85 -95: de los cantares pela New Directions, Nova Iorque, 1956).

10. XCVI – CIX – Tronos (publicado como Tronos: 96-109 de los cantares pela New Directions, Nova Iorque, 1959)

11. Rascunhos e Fragmentos dos Cantos CX –CXVII (publicado como Rascunhos e Fragmentos dos Cantos CX – CXVII pela New Directions, Nova Iorque, 1969).

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